domingo, 17 de julho de 2011

Quem se é, se(mente)?

Conheci, certa feita, num dia de sol intenso, desses que o corpo sente a moleza dos líquidos perdidos e a roupa absorve a transpiração que ocorre sempre despercebida, um escol, não desses ornamentais "belos" que combinam com decorações luxuosas, retrôs e até mesmo, rústicas.
Meio desengonçado, altivo e eminente naquele solo com vegetação acastanhada parecia absorver todos os raios suavemente, digno da inveja daqueles que abrandavam languidamente olhando pra fora da casa.
De um em um, no alto daquele caule verde, com toda imponência de sua cor solitária sua independência me indignava , haviam vários, mas totalmente separados entre si, sendo que até o mato que mais se alastrava compartilhava com mais alguns o mesmo caule, a mesma raiz.
Durante todo aquele tórrido verão, sua beleza eremítica provocava em mim a sensação de fracasso, uma vez que, diante de numerosa companhia a solidão era sentimento mesquinho e presente, tortura constante do pensar ocioso, minha raiz sustentava uma imensidão de fazeres, lutares, luares, amares, seres que se (ou não) completavam.
Para livrar meus pensamentos daquela imagem encantadora cheguei a conjecturar que seres fantásticos e diminutos, voadores e cintilantes faziam dessas flores sua morada, só então a explicação da individualidade plena pareceria menos absurda, ou mais, porque a razão não tem espaço maior em minhas decisões que a exata medida do necessário.
Alguém mais leviano e superficial sentenciaria-me egoísta e enfadonho por sentir-me sovina e mísero diante de algo tão simplesmente perfeito. O olhar atento perceberia que a perfeição incomoda mesmo àqueles que não a buscam, mas torturam os que não a acreditam verdade.
Inquietamente questionador, observador e com ganas de uma resposta demorei aqueles três meses e mais três pra ver o que estava ao alcance de quaisquer olhos, talvez fosse mesmo o tempo necessário para me tornar um, único, altivo, eminente e independente.
Quando da primavera brotaram as primeiras águas e sua altura ainda se fazia acessível, arrebatado de coragem me aproximei, o que percebo ter sido possível apenas devido a transformação que já afluia.
De perto, nenhum ser é único e de todos, o mais único era o que claramente me dizia, cada pedacinho de tons marrons em seu ventre era um pequeno novo ser, capaz de gerar um outrem, assim, um único indivíduo que se é vários.
E ao tocá-los de pronto era parte daquele todo e observava ao lado inúmeros iguais a mim, cores e formatos que por mais diversos tão iguais, originando outros, serão os seres humanos pequenas flores ou essas, humanos?? Terei que esperar o próximo voo, a próxima chuva, onde novamente serei eu e outro e num dia de sol intenso em que sente, até mesmo, a transpiração....

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