quarta-feira, 15 de junho de 2011

Eclipse

Ela olha a lua enquanto o manto negro a descobre, sempre que a descoberta acontece, mesmo que saiba o que verá por baixo, há uma surpresa...
Aquilo que lhe é belo pode parecer comum e aquilo que é comum tornar-se sublime. Para ela, esta é a magia do despir-se...
E despir é sempre um eclipse, ela sabe que terá que passar pela penumbra da vontade, pela escuridão da dúvida e chegar onde estava: penumbra.
Ela olha a lua enquanto o manto negro a descobre e é rápido, rápido como as pessoas, como os sentimentos, como um pensamento, de repente tá lá na cabeça.
Pensamentos povoam demais a sua cabeça, sempre ali como num espelho lunar.
Ela, na rapidez do cair do manto, sente o que quer, ou, o que não quer...
O manto cai e ela não quer ser a lembrança tosca de alguém pra outrem, não quer ser a que gosta de coisas já gostadas pelo que passou ou a companhia que ocupa o lugar de quem se foi.
Ela não quer ser só mais uma lua, mais uma lua cheia, mais uma pessoa igual a que se procura, pra ocupar o lugar de quem já esteve e de certa forma ainda está.
Quer ser única, indivisível, atomicamente A lua cheia, que acaba e não retorna e eis que cai o manto.
Ela olha a lua como quem olha o espelho, mas não pra se pentear, maquiar, ou qualquer outra coisa que muda o que está se vendo, ela olha a lua pra ser ver de verdade, na penumbra, no escuro e sem manto....